Categoria: Amor

Deixar partir

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Nas férias, revisarei e completarei um livro que escrevi em 2006, a biografia do Tiggy (se alguém quiser reclamar de eu ter feito um livro com protagonistas felinos, lembre-se de que Akif Pirinçci ganhou o prêmio de melhor romance policial por Felidae). Um trecho dele diz muito a respeito deste domingo, é a cena em que ele acorda da cirurgia após o acidente e vê a gatinha Tina, que fora resgatada antes dele do estacionamento do Hospital Souza Aguiar :

“Acordei bastante tonto, mas reconheci imediatamente aquele miado. Tina estava ao meu lado, já sem as manchas de sangue, recuperada, embora ainda sem o olho esquerdo e sem um dos dedos da pata dianteira esquerda. Contei a ela o que havia acontecido. Me sentia abatido, cansado, sem vontade de fazer nada, nem brincar. Minha boca estava estranha, eu ainda sentia dores, embora a ardência que eu sentia sob o queixo tivesse desaparecido, restara apenas um estranho latejamento. A pata direita estava imobilizada, era difícil andar. Tina me contou que a tia Andréa cuidara dela, e que a casa estava cheia de outros gatos. Alguns já conhecidos nossos, outros, do parque que ficava em frente ao estacionamento e do qual Tom já me falara horrores, e outros, de diversos lugares. Perguntei, esperançoso, por minha mãe ou meu irmão, mas ela disse que eles nunca haviam estado lá. Antes que eu pudesse ficar triste, ela me ensinou algo que eu levei para toda a minha vida:

– Amarelo, pessoas passam pela vida da gente, gatos passam pela vida da gente, lugares passam pela vida da gente. É importante amar e se envolver enquanto eles ainda estão em nossa vida, e deixá-los partir quando não estiverem mais. Só assim você conseguirá viver, continuar lutando: se recomeçar sem olhar para trás. Eu sinto falta da minha família, dos humanos que moravam comigo, mas eles me deixaram naquele lugar, me esqueceram. Ainda acredito que alguns deles sintam a minha falta, mas não penso mais nisso. Eu os deixei partir de dentro de mim. Deixei partir a casa, os móveis, minha poltrona favorita, o cachorro que era meu amigo. Agora eu me dedico à tia Andrea. Ela diz que eu vou para outra casa, que vou ter um lar. Tem gato que se agarra a isso, e se esfrega em todo mundo que aparece aqui, outros gatos não aprenderam a deixar o passado ir, e muitos até adoecem por isso. Alguns morrem, acredite, morrem de tristeza. Eu estou feliz com o que vier. O Criador me deu outra chance, ele sabe o que faz.”

E mais para a frente, Tiggy conta:

“Uma dessas pessoas levou a Tina. Isso nos pegou de surpresa, e ela não sabia se ficava com medo ou agradecida. Nos despedimos, desta vez com alegria e esperança. Depois eu soube que ela estava bem na nova casa, que tinha amigos gatos e era muito amada por sua nova família. Fiquei muito feliz por ela e, seguindo seu conselho, a deixei ir. Guardei as lembranças em uma gaveta bem especial, e segui, sem olhar para trás”

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Transcrevi isso aqui porque ontem deixei o Gatão partir. Ele comeu um pedaço de sacola plástica, teve uma obstrução, fez uma cirurgia e, no final das contas, não resistiu. Foi tudo muito rápido. Ontem cedo, internado na clínica, ele teve uma parada cardiorrespiratória e foi para o céu dos gatinhos. Não, ele não estará sempre ao meu lado, porque se fosse para ficar ao meu lado, não precisaria ter morrido. Ele está agora em um lugar onde pode comer toda a ração que quiser e isso jamais lhe trará qualquer problema de saúde.

Obrigada, meu Deus, por ter me dado a oportunidade de passar cinco anos ao lado dessa criaturinha tão especial. Ele era meu gatinho mais companheiro, extremamente inteligente e carinhoso, brincalhão, divertido, entendia tudo, tudo mesmo e era um excelente amigo (além de muito fofo, parecia um ursinho). Os outros, talvez por serem mais novinhos, são muito sem noção, não me comunico com eles tão bem quanto me comunicava com ele.  Fico feliz por ter proporcionado a ele um lar de verdade após tirá-lo da rua já adulto, vítima de abandono. Teve um lar com muito amor, segurança e cercado de cuidados.

Ele não gostava de me ver triste, então me lembrei desse trecho que eu havia lido dia desses (que fala de algo que aprendi com os gatos). Vou guardar as lembranças em uma gavetinha muito especial e deixar meu amiguinho partir de dentro de mim.

ate08.set 025

PS: Lembrei de um post que escrevi sobre ele em março, escrevi o texto enquanto ele dormia no meu colo, tirei várias fotos para ilustrar o post (coloquei só uma, mas tirei várias) e o folgadinho não acordou 🙂 Clique aqui para ver.


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Sete anos

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Então, ontem fizemos sete anos de casados. Passa rápido. E parece que foi ontem. Parece que foi sempre. Tenho plena consciência de que passarei o ano inteiro torcendo para que o aniversário de oito anos chegue logo, pois pessoas extremamente criativas adoram fazer brincadeirinhas sobre a imaginária “crise dos sete anos”. Isso “non ecziste”, minha gente.

Ainda estamos metade em São Paulo, metade em Porto Alegre. Ele é a metade em Porto Alegre, e eu, em São Paulo. Mas ele vem, graças a Deus, ao Smiles e à Gol, nessa ordem. Smiles resolveu fazer promoções amigas e ele conseguiu passagens jamais imaginadas. Veio, foi, veio, foi…ontem ele estava aqui e comemoramos o aniversário indo ao cinema para assistir X-Men Primeira Classe. Ok, isso não parece muito romântico, mas – como ele mesmo disse – é a nossa cara. Entre as opções que tínhamos, foi melhor do que ver Kung Fu Panda 2, admita. Depois eu faço uma resenha do filme, por falar nisso.

Nossa comemoração foi regada a suco de maçã – também a nossa cara. Atividades neuróbicas, como conhecer um novo shopping, ou nada neuróbicas, como tomar café da manhã na padaria de sempre, marcaram nosso dia. Dia só nosso, que Deus nos deu.

Hoje a vida continuou no ritmo em que ela está, atualmente. Dave voltou para Porto Alegre, eu voltei ao trabalho, ambos com a certeza de que em breve estaremos fisicamente juntos o tempo inteiro, pois nossa mente e nosso coração não se separam em nenhum momento. Por isso eu não sofro, nem ele. Não estamos longe, estamos apenas fisicamente afastados, mas a conexão que estabelecemos há quase oito anos e que se transformou em pacto, em aliança, há exatos sete anos, jamais se rompe, pois foi alicerçada no Criador de todas as coisas. E nunca isso foi tão claro quanto neste ano.

O amor jamais acaba.

O amor descrito em I Coríntios 13 não é um sentimento, é uma escolha, uma decisão. Isso faz toda a diferença.

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