Categoria: Falando sério

Drama Queen

Dropped mask

Eu achava engraçado dizer que era dramática. Um pouquinho exagerada em minhas reações diante das situações, como um gatinho. Gatos são dramáticos. Feche uma porta e ele fará um escândalo para passar por ela, como se fosse muito importante. Como se a vida dele dependesse disso. Eu era um pouco assim.

De tempos em tempos, algum comportamento meu começa a me incomodar a tal ponto que ele tem de ser corrigido imediatamente. O drama foi um desses. Fiz teatro por algum tempo, quando eu era criança achava que seria atriz, então essa característica de levar tudo para algum extremo emocional era encarada com naturalidade. Quando comecei a escrever, achava que essa tendência era até importante, porque me ajudava a transmitir emoção ao leitor. No entanto, quando você começa a passar por situações realmente sérias e dramáticas, a coisa parece perder a graça.

Se você está reagindo dramaticamente, provavelmente o que está acontecendo em sua vida não tem importância nenhuma. Porque se tivesse e você reagisse com drama, provavelmente morreria. É isso. Não há possibilidade de suportar por muito tempo uma situação difícil usando recursos emocionais. Não há. Fique desesperado, fique preocupado, fique histérico, chore, se descabele, mas não conseguirá sustentar isso por muito tempo, até porque não resolve coisa alguma. Esse tipo de reação é totalmente inútil. Pode te levar a uma depressão, o que te dará mais um problema para lidar: antidepressivos são caros, cheios de reações adversas e não resolvem o problema principal.

A única forma de lidar com uma situação realmente grave é mantendo a calma e agindo racionalmente. E – principalmente – tentar manter a leveza e buscar a paz interior. Sem paz interior, você não consegue enxergar nada racionalmente, nem manter leveza nenhuma. Já percebi que quando as coisas estão pesadas, difíceis, sendo arrastadas, é porque não estou agindo (ou reagindo) da forma certa. Se eu entrego a situação para Deus e procuro olhar de uma forma positiva para encontrar uma saída, ou para lidar com algo potencialmente dramático, vai ser leve para mim. O mundo pode estar se despedaçando ao meu redor, posso estar no meio de uma guerra, mas conseguirei lidar com leveza, ver claramente, enxergar uma saída  e sair inteira.

Porque tudo na vida passa, meu amigo. Tudo passa. Você só se enfia em novela mexicana se você quiser. É você quem escolhe. Existem romances super piegas e ridículos escritos por pessoas que querem arrancar lágrimas dos leitores mais emotivos. Eu leio e acho ridículo. A maioria, infelizmente, chora e acha lindo. Mas esse tipo de literatura é descartável. Serve apenas para dar dinheiro ao romancista. Já bons romances contam histórias consistentes para marcar os leitores, não necessariamente para fazê-los chorar. Os personagens são bem construídos, vão a fundo no espírito do leitor. Ao final, a leitura te obriga a pensar, não a chorar. E assim são as boas histórias da nossa vida, aquelas que construímos com a ajuda de Deus.

Porque Deus não escreve novela mexicana, meu amigo, nem escreve Júlia e Sabrina. Deus escreve coisas que valem a pena viver. Por isso eu me revolto quando percebo que estou dentro de uma novela mexicana. Não quero nem saber. Não vou chorar, não vou me descabelar. Vou resolver essa bagaça porque preciso de uma história consistente e inteligente, não abobrinha para emocionar o leitor. Fazer o leitor chorar é muito fácil e muito raso. Meu Escritor preferido não é assim.

Então, eu procuro formas alegres de ver as coisas – porque alegria não faz chorar – e procuro formas leves de encarar coisas pesadas – porque assim você consegue tirar o melhor delas e encontrar saída. Chorei muito nesta vida, vivi muito drama, estive em novelas mexicanas ridículas e mal escritas. Aliás, mais ridículas e mal escritas do que as mexicanas, algo tipo novela da Globo. E quando consegui pegar uma dessas tramas escritas por um escritorzinho de meia pataca e, por meio da mudança do meu pensamento, da minha forma de encarar, transformá-la em uma história interessante, tirando das mãos do escritorzinho de quinta e passando para as mãos do melhor Escritor do universo, percebi que poderia fazer isso com todo e qualquer drama.

Olhando os problemas de cima, não do meio deles. Não me permitindo mais ser cozida com os problemas no sopão do horror. A escolha é sua, meu amigo. O problema está aí e chorar não vai livrá-lo dele. Mergulhar nele não vai livrá-lo dele. Você quer curtir o problema ou se livrar dele de uma vez por todas? Se quer se livrar, pare de ruminá-lo como um bovino. Pare de alimentar os pensamentos negativos em relação a ele. Pare de vê-lo como se fosse grande e intransponível e difícil e absurdo e real e eterno e…dramático. Ele é ridículo. Ele é passageiro. Ele é pequeno. Ou você coloca a sua certeza nele e afunda, ou você coloca sua certeza na solução e sai dessa historinha mal escrita. A escolha é sua.

Os ideais

Meu texto sobre as eleições foi publicado no blog do Bispo Macedo. Fiquei feliz, pois mais pessoas poderiam se identificar com ele, o que de fato aconteceu. Estranhamente, em um primeiro momento não houve o chilique público, talvez pelo post ser assinado. Depois, começaram os comentários. Um me pergunta: “Quanto o Edir Macedo está lhe pagando?”

Não, eu não  vou te convencer de que o Bispo Macedo não é como você pensa que ele é, nem que ele realmente acredita e vive tudo o que ele prega (apesar de eu poder te garantir isso. Ele realmente acredita e vive o que prega).  Não vou te convencer de que a mídia manipula a opinião pública sobre a IURD há 20 anos.  Não vou te convencer de que eu acredito em tudo o que escrevo. Não vou te convencer de que eu sempre defendi aquilo em que acredito. Se você não me conhece, nada do que eu disser terá algum peso, não é mesmo? Não me importa. Não é disso que eu quero falar.

O que achei estranho nessa história toda é que a sociedade está predisposta a dois pensamentos que, em minha opinião, são igualmente tristes:

1 – Se a pessoa escreve com convicção alguma coisa com a qual o leitor não concorde, já se imagina que ela foi paga para isso. Trocou sua opinião por dinheiro.

2 – Se ela não recebeu dinheiro em troca, ela é idiota. Ingênua, ignorante.

Afinal de contas,  é errado o que vende suas convicções, mas se é idiota o que defende suas convicções de graça, o certo é o quê? Não ter convicções? Ou não defender aquilo em que acredita?

As pessoas vivem tão mergulhadas em tantas dúvidas, medos, receios e desconfianças, que é impossível ter uma convicção verdadeira. As convicções verdadeiras são fruto de raciocínio e de certeza, e só assim tornam-se suficientemente fortes para serem defendidas com segurança.  Quem não tem segurança dentro de si, vai buscá-la do lado de fora.

Esse é o trabalho que a indústria do entretenimento e a mídia têm feito em conjunto há muitos anos. Ao mesmo tempo em que trabalham para tirar de seu público as certezas pessoais e enchê-lo de dúvidas e desconfiança, lhe oferecem as certezas pré-fabricadas de que ele precisa.  Não é de se espantar que as pessoas digam as mesmas coisas, ajam da mesma forma, repitam as mesmas frases, as mesmas acusações, como uma manada, como um exército de autômatos que nos acusa de ser um exército de autômatos.

Vivem interessados no que vai acontecer na novela, cantando as músicas que a TV lhes diz para cantar, usando as roupas que a novela lhes diz para usar, repetindo os bordões dos personagens, emprestando a linha de raciocínio retirada dos telejornais, dos jornais impressos, da Veja, absorvendo a lógica da mídia como se fosse a verdade absoluta que lhes sirva de base para toda e qualquer argumentação. E nós é que somos os manipulados.

As pessoas (muitas pessoas de boa índole, inclusive), acreditando que estão impedindo uma catástrofe, permitirão uma catástrofe ainda maior* (aliás, isso é bíblico).

Os seres humanos são idealistas por natureza. Se estiverem preenchidos de cinismo e rejeitarem os ideais verdadeiros, abraçarão qualquer ideal que lhes for apresentado. Aí quem lhes apresentou esse ideal terá material humano para fazer o que quiser. Então você vê uma multidão revanchista, com ideais negativos (que, no entanto, têm uma justificativa positiva, e por isso atraem até muita gente boa) e discursos raivosos contra aqueles que defendem positivamente suas causas, de uma maneira racional e equilibrada.

Por isso prefiro me manter com alienígena neste mundo. Desconectada da Matrix, querendo desconectar outras pessoas (afinal, para isso fomos chamados…faz parte do cristianismo oferecer essa libertação aos que nem sabem que estão cativos. Há uma ordem expressa na Bíblia.), mas sabendo que não posso obrigar ninguém a raciocinar. Tomar a pílula vermelha é escolha de cada um. Em um primeiro momento, é mais confortável não tomar e seguir a corrente. O problema é aonde essa corrente irá levar.

*Em muito menor escala, foi o que aconteceu nessas eleições municipais. Eleitores sedentos por um ideal verdadeiro, abraçaram o ideal da mídia “vou votar no Serra/Haddad só para impedir a vitória do Russomano”, acreditando sinceramente que estavam atrapalhando uma espécie de golpe de estado religioso.

PS: Ainda sobre eleições, esse excelente texto do João da Paz (clique para ler) mostra o estilo de jornalismo da Folha de São Paulo, durante as eleições municipais. Claro que não foi apenas a Folha, quem viu a entrevista de Russomano à César Tralli, na Globo, percebeu que seguia a mesma linha. Não era interesse da velha mídia que Russomano tomasse o lugar do candidato do PSDB no segundo turno, e conseguiram manipular toda a máquina nesse sentido. Se o Serra ganhar, darei os parabéns ao PT.