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Em letras garrafais

Aproveitando as férias do Lampertop e a sensação de que enquanto estou agendando publicações futuras ninguém está lendo, ressuscito um texto de Josephine (retirado do Save The Planctons) do qual eu particularmente gosto muito…eu, particularmente, já que mais ninguém demonstrou algum apreço por tal texto… o pior é que apesar de meus esforços contínuos para ser uma pessoa mais organizada, minhas roupas continuam a ser acondicionadas em garrafas hermeticamente fechadas…ou ao menos é o que parece…

Sábado, Março 27, 2004

Em Letras Garrafais

Como todo Lunático, Edmund é extremamente organizado. As roupas são todas numeradas, para facilitar a identificação e as gavetas todas têm etiquetas com seu conteúdo esmiuçado.

Eu não sou lunática, mas também sou organizadíssima. A meu modo, é claro. No meu guarda-roupa as roupas ficam todas guardadas dentro de garrafas de diferentes cores. Quando alguém me encontra na rua e pergunta se a blusa que estou vestindo foi retirada de alguma garrafa, respondo sempre com a verdade.

Isso aconteceu hoje, uma amiga perguntou, ao me ver com a blusa vermelha ligeiramente amarrotada (na opinião dela): “Josephine! De qual garrafa você tirou essa blusa???” Sem entender exatamente o porquê de ela querer tal informação, respondi: “Terceira garrafa à esquerda, na segunda gaveta, de cima para baixo”.

Pode não parecer muito prático, mas esse sistema das garrafas poupa bastante espaço no guarda-roupa e estudo usá-lo para a organização de outros lugares, como por exemplo a mesa do computador.

Colocar todos os textos impressos que quase me impedem de conseguir ler algo no monitor neste momento em garrafas pode dificultar um pouco na hora de retirá-los, mas certamente manteria minha sala mais…digamos, respirável.

Penso que poderiam ser feitas garrafas um pouco maiores para nos poupar de outros tipos de superlotação. Engarrafar pessoas em um show, por exemplo, seria bastante útil para aumentar o espaço real. “Trânsito engarrafado” teria novo significado se esse sistema fosse posto em prática.

Poderiam ser feitas garrafas em novos formatos, como por exemplo, garrafas horizontais, para poupar espaço vertical. Poderia engarrafar Edmund, ele é muito alto e ocupa muito espaço vertical, que poderia ser usado para pendurar coisas importantes no teto.

Porém a idéia de ter um namorado engarrafado, parafraseando Edmund, “não me proporciona encanto”. Apesar de ele ter de andar abaixado, quase encurvado, no supermercado porque algum baixinho resolveu montar aqueles imensos ovos de páscoa sobre as nossas cabeças, as desvantagens de ter um namorado engarrafado superam quaisquer vantagens que eu possa visualizar.

Eu sei, engarrafar namorado não tem nada a ver com usar garrafas para organizar o guarda-roupa, mas de uma certa forma usamos garrafas para organizar a sociedade. Crescemos engarrafados e gostamos de engarrafar pessoas e tascar-lhes um belo rótulo.

Sair da garrafa, antes de um ato de baderna, é um ato libertário (embora seja recebido como ato de baderna, em primeira instância). Talvez- e só talvez- manter a bagunça sobre a mesa do computador e dentro do meu guarda-roupa, sem garrafa, sem caixa, sem nada, seja uma forma de liberdade não aceita pela sociedade.

Por que devemos guardar as coisas em gavetas? Eu sempre encontro as coisas quando elas não estão guardadas, e sempre as perco quando estão. Querem nos fazer acreditar que perderemos aquilo que deixarmos fora das caixas, gavetas e garrafas enquanto sabemos que é bem o contrário. Por que nos dobramos a isso então? Por que dobramos?

Por que dobramos as roupas nas gavetas? Por que simplesmente não as deixamos emboladas, como elas gostam de ficar, naturalmente?

Tento trazer esses questionamentos ao Edmund há pelo menos seis meses, mas não tem surtido efeito algum. Ele ainda dobra, meticulosamente, peça por peça e guarda tudo em gavetas.

Eu ando espalhada, fora minhas garrafas de roupas no armário. Por dentro sou assim, não sou uma pessoa dobrada. Alguém me disse que nosso armário revela quem somos por dentro. Seria preocupante, se eu já não soubesse.

Gavetas

Já que estou ressuscitando posts (férias no Lampertop abrem pretexto para Vanessa publicar “pedacinhos de mim”), ressuscito um que pulou de blog em blog…desde que recolhi as cositas da Josephine do Diário e realoquei no Save The Planctons...post de 2004…mas como estou em um momento de faxina (foi bom para ver que melhorei…minha bagunça agora está mais seletiva…consegui aprender a jogar fora algumas coisas obviamente inúteis…bem, depois de SETE ANOS era o mínimo a se aprender…)

Outra coisa: os posts de Josephine têm todo um contexto, que acabou se perdendo quando a anta aqui resolveu retirá-la do Diário acreditando que assim Edmund voltaria a escrever. Se eu soubesse que o Diário ficaria abandonado, teria permanecido por lá, ainda cantando: “tá dominado, tá tudo dominado…”

Terça-feira, Setembro 07, 2004

Gavetas

Andei fazendo uma limpeza nas gavetas de casa e me impressionei com a quantidade de quinquilharias que guardo. Não falo apenas dos cartuchos vazios da impressora ou das canetas bic e grampos de cabelo, porque isso todo mundo guarda, acho.

Mas encontrei embalagens blister de produtos do tipo lixas de unha, a caixa do mouse, dezenas de etiquetas recortadas das roupas (eu detesto etiquetas), lacinhos e florzinhas recortados das roupas de baixo (por que eles insistem em costurar aquelas coisinhas inúteis nas calcinhas e sutiãs?) e uma infinidade de papeizinhos e folhetos sem utilidade alguma.

Prometi a mim mesma nunca mais pegar um mísero folheto na rua, nem em consultórios médicos, lojas de celular, nada, nada, nada! Tinha um folheto explicativo, altamente elucidativo, sobre o tratamento da asma com um determinado medicamento. Ocorre que não tenho asma. Nem eu, nem Edmund, nem ninguém que more comigo. Por que raios peguei aquele folheto no consultório médico? Ou pior, por que eu o guardei por mais de seis meses na gaveta? Não me pergunte, não faço idéia.

Talvez seja reflexo de nossa vida enlouquecida, cada vez mais maluca e corrida, que nos impede de ter papeizinhos realmente úteis para guardar, como uma carta de amor, um bilhete apaixonado, um cartão de agradecimento, um pedido de desculpas escrito em um guardanapo…

Tudo reflete a carência afetiva da nossa sociedade. O folheto do consultório, na verdade, era uma carta de declaração de amor do medicamento a mim, prometendo me livrar de uma crise asmática, caso eu tivesse uma. Talvez meu subconsciente tenha visto assim “alguém se importa comigo”.

Cada folder, cada cartãozinho, cada jornal de ofertas de supermercado deixado na caixa de correio, representa o trabalho de diversas pessoas e eu simplesmente não me sinto à vontade para jogar todo esse trabalho, suor, investimento humano e financeiro no lixo. Mantenho na gaveta por algum tempo, até que fique obsoleto, mas antes de se tornar uma peça com valor histórico. Então jogo fora.

Peças com valor histórico não podem ser jogadas fora, portanto tenho que revirar todas as gavetas antes que seja tarde demais e eu tenha que guardar aquela notinha da compra de um refrigerante no supermercado, datada de cinco anos atrás.

É uma tarefa árdua. Mexer nas gavetas é como mexer em mim mesma, lá no fundo da alma, nas coisas que guardo, lembranças, sentimentos, momentos passados. De vez em quando devemos fazer isso. Jogar fora os papeizinhos e etiquetas acumulados, guardar só o estritamente necessário e deixar espaço para coisas novas.

Estou profunda hoje. É, talvez este texto nem caiba aqui, mas se eu não colocar este texto aqui hoje, possivelmente amanhã existirá uma multidão reunida na porta deste blog, protestando como a Marguerita (dona Pizza )…ops, Margarita 🙂 nos comentários do post anterior, ” Post Novo Já!!”

Pretensão de Josephine. Realmente gostaria de acreditar que alguém sente minha falta neste blog. Alguns leitores, porém, têm me escrito indignados com minha falta de amor próprio, por eu achar que só Edmund é importante. Mas é que este blog é dele e tem se falado mais em Josephine do que em Edmund. Entretanto, agradeço. Suas opiniões tem feito diferença para mim.

Ainda faltam duas gavetas. Preferi escrever antes já sabendo que ia ser um texto pseudo-profundo. Se esperasse mais uma gaveta, ficaria insuportável, filosofando sobre as gavetas da alma, sobre as etiquetas da vida e os cartões vencidos de nossa existência breve.

Edmund conseguiu convencer o Cabide a esperar mais uns seis meses antes de se mudar para o meu apartamento. Acho que isso quer dizer alguma coisa. Edmund diz que isso quer dizer que o Cabide vai pensar mais um pouco. Para quem não se lembra, o Cabide e o Criado-Mudo de Edmund não se dão nada bem. O Cabide é um lorde, educado, polido, e o Criado-Mudo é arrogante, mal-educado e irônico, sempre acabam discutindo. Há algum tempo tiveram uma discussão feia e o Cabide ameaçou mudar-se para a minha casa. Agora, mais calmo, concordou em pensar mais um pouco.

Devo salientar que ainda não consegui fazer com que falem comigo. Esses móveis só se comunicam com Edmund, ele diz que eles são tímidos na presença dos outros, mas aos poucos o Cabide está se sentindo mais à vontade perto de mim, é um avanço.
No começo o Criado-Mudo não ia com a minha cara, mas eu sei que no fundo, no fundo, ele é legal. Talvez lá bem no fundo de sua gaveta, talvez se eu vasculhasse as coisas que ele guarda, me surpreenderia positivamente. Quem sabe um dia ele se abra para mim?

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Comentários deste post:

“É eu as vezes acho cada coisa no mu guarda roupa! Nas gavetas ja achei coisas tão velhas quuanto eu! Hehehehhehe, é engraçado.”
Alencar 09.08.04 – 1:31 am

“Minha amiga sente dó quando passo pelas pessoas na rua e recuso seus panfletos. Vou fazer o que com papeizinhos de dentistas oferecendo extrações a 10,00, restaurações a 7,00, ou bidus como “Mãe Dinah fala sobre seu futuro, fazemos amarrações”, etc. Melhor jogar e não se prender a nada.
Parabéns pelo blog!”
CARLA 09.09.04 – 12:19 am

“Olá senhora Butterfly! Quanto tempo! Ainda com o grande Edmund? É bom ver vcs junots (mas vcs n tinham terminado?)… Mundo estranho.
M16 09.09.04 – 11:11 am

“eu kero o criado mudo, gostei dele, parece muito com meu armário, já o cabide, este se parece com a quina da cama que eu insisto em dar joelhadas e ela pede “desculpas”…. Tah tah, eu vou trabalhar, eu sei, tenho que dormir… aiai…. fuies”
Faboides 09.10.04 – 12:56 pm

“Ei, eu sou um drink, não uma pizza! 🙂
Obrigada pelo post, Josephine, agora posso sobreviver mais algumas semanas sem crise de abstinência lunática. Ah, e posso me sentir uma pessoa organizada, também… ”
MargariTa 😉 09.15.04 – 2:22 pm

“Sabe que já se passaram-se bem mais de uma semana?? Escreva por favor! ”
aryadne

PS: Os donos deste blog não se responsabilizam pelos comentários deixados pelos leitores, como os transcritos acima