Saia da rotina

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Li  uma matéria bem interessante no  R7 (clique aqui para ler) , escrita por Carolina Gonçalves, e me chamou a atenção a seguinte afirmação: “O clínico geral Filippo Pedrinola explica que a mudança da rotina, nem que seja de pequenas coisas, pode estimular novas conexões cerebrais. Esse fenômeno é conhecido como neuroplasticidade e ajuda nossa mente a ficar mais alerta.”

Eu sou entusiasta da neurociência, e em livros do tipo “Mantenha seu cérebro vivo” existe essa premissa de que desviar um pouco a rotina é um excelente exercício neuróbico. Então algo que eu julgava ser um defeito é, na verdade, uma qualidade! Meu cérebro deve ser uma explosão louca de novas conexões cerebrais! Eu deveria estar descobrindo, nesse exato momento, assim, no gerúndio, teorias revolucionárias, concluindo a Teoria de Tudo, sonhada por Einstein, e que deixaria a Teoria M no chinelo.

Mas cá estou eu, lutando contra meu destino, me esforçando diariamente para manter algo que se aproxime de uma rotina. Tentando acordar mais ou menos no mesmo horário (isso eu já consigo fazer!), indo dormir cedo, fazendo intervalos regulares no trabalho e deixando de escrever às oito da noite. Mas ainda assim, a cada dia eu faço as mesmas coisas de maneira diferente, então nem mesmo minha tentativa de desenvolver uma rotina deixa de ser neuróbica.

O segredo da coisa toda é o equilíbrio. Aliás, já diria Salomão, na Bíblia, que a moderação em tudo é boa. O equilíbrio é o segredo de tudo. Não dá para viver totalmente sem rotina (acredite, eu já vivi assim, não é legal), pois a rotina gera energia. O legal é fazer a rotina transformar-se simplesmente em disciplina e ordem. Dentro disso, você pode variar a forma de fazer as coisas, não necessariamente as coisas que faz.

Exemplo, exemplo, o povo vive de exemplos. Use um cheiro novo em sua casa na hora da faxina, experimente mudar a posição dos objetos que você usa em sua mesa de trabalho, em seu criado-mudo, na pia do banheiro… Não faça a mesma comida no café da manhã, experimente algo diferente ou algo novo.Sim, coma algo que você nunca provou, saia de sua zona de conforto, sem pré-julgamentos a respeito do que vai provar, espere o melhor.  Se no intervalo do seu trabalho você costuma ficar na internet, levante-se e vá fazer alguma coisa diferente (dê sempre preferência a algo que você nunca fez), nem que seja dar uma volta na quadra (se você puder sair) ou escreva em um papel qualquer coisa que lhe venha à mente, tente fazer um pequeno texto descompromissado, ou ler alguma coisa no espelho.

Existem coisas simples que você pode fazer em qualquer lugar, a qualquer hora. Pegue objetos com a mão que você menos usa, procure algo em sua bolsa de olhos fechados, só pelo tato (isso eu sempre fiz e não sabia que era  exercício neuróbico). Carregue um livro na bolsa e leia um pouco sempre que tiver tempo…sentada no ônibus, em pé, na fila do banco…

Lembrei de um exercício que o Fabricio (o professor que não gostava quando eu usava a palavra “cérebro” em um texto…talvez por não achá-la visceral o suficiente) passou para a gente na faculdade uma vez (bons tempos aqueles) e que quase me deu um nó no cérebro: escrever uma carta de amor sem a letra “A”. Quando ele nos propôs esse exercício, me pareceu fácil, mas a execução foi dolorosa…quamurrí, colega.  Mas saiu isto:


“Confesso que tenho medo de perdê-lo. Mesmo que você continue dizendo que me quer como sempre quis, o ciúme e o desespero me colhem. O sentimento que nos une é muito forte, eu sei, e o que houve ontem é menor, é pequeno, mesquinho, você pode dizer. Eu sei. Desculpe, me desculpe.

Você é meu, devo crer nisso. Quero seu corpo, seus olhos, seus dedos, deixe-me sofrer o medo, ele pode nos ser útil. Serve pelo menos de consolo, repouso dos meus segredos. Tenho medo de perdê-lo e de me perder contigo.

Somos um, eu sei.

Sempre entregue,

Josephine.”


E – acredito – alguns neurônios novos, recém-nascidos, que vieram a este mundo sem conhecer a letra “A”.

PS: Confesso que a parte de coerência e de correspondência ao que eu realmente queria dizer foi colocada de lado na hora de escrever esse texto. Eu me foquei única e exclusivamente na torturante tarefa de fazer uma carta de amor sem a letra “A”. Eu morreria se tentasse sincronizar isso com algum sentimento, lógica (mantive uma mínima) e coerência, sem a pieguice que grudou no resultado final. Não dava para exigir tanto de mim naquela época.

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Sobre o texto “Como se tornar 171 (…)”

Vi o post Como se tornar um 171 inescrupuloso e desprovido de ética em 7 lições” (clique para ler) na lista dos mais recentemente lidos do blog e resolvi reler. Por curiosidade, voltei ao texto que originou esta resposta, escrito por Denyse Godoy. Fiquei espantada ao descobrir por lá um comentário da jornalista, que não entendeu (ou não quis entender, não acredito, sinceramente, que as pessoas sejam tão desprovidas de capacidade de interpretação de texto assim, ainda mais jornalistas!) o que eu escrevi.  Segue:

Denyse Godoy20/08/2010 12:51
Certo. Quem pechincha é sociopata, diz a leitora Vanessa. Será que a melhor estratégia, então, é, antes de comprar algum produto, perguntar primeiro para o vendedor como está a situação finqanceira dele? Porque, se ele responder que o aluguel está atrasado, o consumidor pode se oferecer inclusive para pagar o dobro do valor para ajudá-lo, né.Responder
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Vanessa Lampert23/09/2011 14:16 A jornalista Denyse Godoy, pelo visto, realmente não é muito boa em interpretação de texto. Não disse que quem pechincha é sociopata, releia meu texto com atenção (não vou explicar de novo, está bem explicadinho). Qual é a melhor estratégia? – você me pergunta – Ter ética, ser honesto e utilizar o bom senso ao pechinchar. Não enganar, mentir e agir como um sociopata, como sugere este artigo deplorável. Leia novamente.

“Denyse Godoy 20/08/2010 12:51

Certo. Quem pechincha é sociopata, diz a leitora Vanessa. Será que a melhor estratégia, então, é, antes de comprar algum produto, perguntar primeiro para o vendedor como está a situação finqanceira dele? Porque, se ele responder que o aluguel está atrasado, o consumidor pode se oferecer inclusive para pagar o dobro do valor para ajudá-lo, né.”


Nem merecia resposta, certo? Pois é, mas eu sou uma criaturinha feliz e acabei respondendo…


Vanessa Lampert 23/09/2011 14:16

A jornalista Denyse Godoy, pelo visto, realmente não é muito boa em interpretação de texto. Não disse que quem pechincha é sociopata, releia meu texto com atenção (não vou explicar de novo, está bem explicadinho). Qual é a melhor estratégia? – você me pergunta – Ter ética, ser honesto e utilizar o bom senso ao pechinchar. Não enganar, mentir e agir como um sociopata, como sugere este artigo deplorável. Leia novamente.

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É brincadeira, não? Eu comentei sobre o lado do vendedor, porque fazia parte de minha realidade na época, e não tinha como não ter empatia. E a pessoa utilizou isso para desqualificar todo o meu comentário… Eu não sou contra pechinchar, tanto é que me interessei pelo texto (não leio sobre assuntos que não me interessam, vou perder meu tempo?), sou contra a desonestidade e o comportamento predatório.

Não trabalho mais com vendas, mas continuo tendo empatia. Eu sempre me coloco no lugar do outro e não gosto de fazer com os outros o que não gostaria que fizessem comigo. Sei respeitar os limites, principalmente os que delineiam a ética, a honestidade e a responsabilidade. E posso ser muito idiota por isso – sempre serei, faço questão – mas não abro mão desses princípios básicos por dinheiro nenhum. Não vale a pena.

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