Bolinho de arroz

Algumas coisas eu realmente não sei explicar. Sou muito exigente com textos, principalmente de humor. Não acho graça de qualquer coisa e tenho um pouco de fama de chata por isso. De humor sarcástico, muito pouco compreendida, posso contar nos dedos as coisas que realmente me fizeram rir. E todas tinham muita qualidade. No entanto, as anomalias existem, não podemos negar. Eu me derreto por construções simples, que transpareçam uma criatividade livre…algo mais ou menos como: pessoa totalmente sem noção cria um negócio despretensioso com menos noção ainda.

Por algum motivo ainda desconhecido, o Bolinho de Arroz me parece ter uma riqueza extraordinária em sua simplicidade. Algo feito unicamente para divertir. Uma leveza infantil que ultrapassa o traço torto, as vozes desafinadas e a música monocórdica. O Bolinho de Arroz, com sua expressão idiota e suas perninhas brotando me remete a uma infância tão rica de criatividade, sem compromisso com o real, mas sem a chatice do nonsense “cult” adulto. O único efeito colateral é a musiquinha glue-music, que não desgruda mais da cabeça por uma semana (ou mais). Mas não dá para ouvir sem música. O grande barato do Bolinho de Arroz é o conjunto da obra.



PS: Era para ser apenas uma nota e o vídeo. Não acredito que acabei escrevendo uma resenha do Bolinho de Arroz…hahahahaha…

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Amy

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A cantora inglesa Amy Winehouse esteve no Brasil e fez a alegria da mídia grotesca de fofoca brasileira. Alguns repórteres são piores que os outros, mas os sites que têm espaço para comentários escancaram o que há de pior nos seres humanos. Amy é uma moça de 27 anos muito talentosa e que, infelizmente, teve um relacionamento conturbado com um rapaz que a levou ao mundo das drogas. Isso acontece o tempo todo, mas como Amy é uma figura pública, os holofotes a transformaram em uma criatura bizarra.

Não, ela não é uma criatura bizarra. Ela é uma moça bonita que fez escolhas erradas e que está presa em uma situação da qual poucas pessoas conseguem sair sem apoio. Ninguém gosta de viver assim. Ninguém gosta de ficar feia, ninguém gosta de ser vista como suja, ninguém gosta de ser alvo de piadas, de desprezo. Eu olho para Amy Winehouse e vejo uma menina que precisa ser ajudada, desesperadamente. Olho para ela e vejo uma pessoa que está sofrendo, mesmo – e principalmente – quando ela é agressiva. Antes de se envolver com drogas ela era uma pessoa, depois, parece outra, e não falo apenas de aparência.

É triste, é muito triste. E não apenas triste, é revoltante. Revoltante ver como a mídia pratica um bullying (sim, é essa a palavra) em nome do que vende: fofoca e maledicência travestida de notícia. E daí que a moça tropeçou quando estava bêbada? O que você tem com a vida dela? Qual o direito você tem de rir dela? Ou mesmo de fazer considerações a respeito de sua vida pessoal? Só porque ela é famosa? Qual a diversão mórbida em vê-la embriagada dentro de um carro?  Tirar fotos, fazer vídeos, rir dela e depois escrever coisas do tipo: “Será que eu sou a unica pessoa que tem nojo dessa criatura cretina?” ou “Não entendo essa rebuliço por essa coisa desprezível, pois não interessa se ela teve um dia talento, não se deveria dar atenção ao ser humano nojento que ela é!”  Juro que li isso, e você não tem ideia do quanto tive que me esforçar para não ter nojo do ser que escreveu essas palavras, e não julgá-lo desprezível.

Tive pena. É, pena. Porque alguém que não consegue olhar para Amy Winehouse e ver um ser humano digno de respeito, não pode sequer esperar que Deus o veja como alguém digno de atenção.A maior razão por que a Bíblia nos exorta a não julgar o próximo é que se Deus, sendo perfeito, releva nossas imperfeições para que nos aproximemos dele, como nós podemos não relevar as imperfeições de nossos semelhantes? Se os desprezarmos, seremos nós mesmos dignos de desprezo, pois todos somos iguais. Seus erros não são menores do que os dela, meus erros não são mais “limpinhos” só porque eu não fumo, nem tomo bebida alcoólica nenhuma. Isso, aliás, independe de você ter ou não alguma religião, é algo de caráter. Religião muitas vezes faz com que a pessoa tenha a falsa sensação de que é melhor do que a outra e que, por isso, tem liberdade para apontar quantos dedos quiser.

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Torço pela Amy Winehouse. Não sou fã, nunca fui, gosto muito da batida de Rehab, por exemplo, e da voz da Amy nessa música, mas sou literal demais e não consigo desconectar melodia e letra, eu ouço música prestando atenção na letra, e Rehab para mim é uma declaração triste e preocupante e não consigo “curtir” nem a “Vibe” rebelde da coisa, pois não é ficção. Ver aquela moça bonita no clip e lembrar de como ela ficou me impede de gostar, sinceramente.

Torço para que Amy se recupere, pois quero ver novamente aquela moça bonita e preocupada em fazer algo pela criação musical e que, infelizmente, não tinha estrutura emocional para aguentar o ritmo alucinado da fama, e estava ao lado de uma pessoa tão perturbada que só a ajudou a se afundar.

Lembro do que a mídia fez com Michael Jackson, que por ter deformado seu rosto com plásticas passou a ser visto como um ser não-humano, e tratado como tal. Ninguém estava minimamente preocupado se o que era dito o magoaria, se o feriria, como se ele não tivesse sentimento algum, ou como se fosse um “ser desprezível”. O ódio direcionado a ele, o desprezo que levava alguns a chamá-lo de “Freak” na capa de revistas, deveria ser proibido. Sério, mesmo. Eu não gostaria que fizessem isso comigo, nem com um filho meu, por que aceitar tanto ódio por alguém que não conheço, só porque é famoso? Como se ser famoso o deixasse menos humano, ou como se as pessoas tivessem tanta inveja da fama que desprezassem aquele que se mostrasse um pouco mais falho, um pouco mais…humano. É por essas e outras que eu digo que se realmente houver vida inteligente fora da Terra, se for realmente inteligente, certamente mantém distância segura deste planeta.

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Vanessa Lampert

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