Dia da pizza

Diálogo ocorrido há quinze minutos:

Eu chego na sala, após ler isso no Twitter (com o delay de sempre), Dave está  deitado no sofá, assistindo TV:

– Amoor, sabia que hoje é o dia da Pizza?

– É? Dia da pizza?

– Pois é, e a gente nem ligou para ela para parabenizar. (sorrisinho de quem acredita que ele captou o recado da brincadeirinha infame)

– Não tem problema, amanhã a gente liga para ela.

… não desisto assim tão fácil:

– Mas ela não vai ficar chateada?

– Não, ela vai entender.


Isso é o que dá conviver com pizzas compreensivas. Em pleno dia da pizza, eu comi sanduíche de rúcula com tomate e ovo frito.


PS: Justiça seja feita: no início da noite ele me fez uma surpresa, trouxe uma torta mesclada da Bella Gulla (beijinho com brigadeiro…ou como se diz aqui no Sul: branquinho com negrinho…risos…). Mas isso me impede de querer uma pizza no final da noite?

Vento do Moinhos

Horário de almoço, resolvi dar uma volta na região, antes do almoço propriamente dito. A chuva caía, discreta, como somente Porto Alegre sabe chover. Saquei a pequena sombrinha da bolsa e fui, charmosamente, subindo as lindas ruas do Moinhos de Vento. Não vi moinho algum, mas o vento me pegou a uma quadra e meia dali. Virou minha sombrinha do avesso, amassou, mastigou e cuspiu fora. Olhei e havia duas opções: rir ou chorar. Escolhi rir. As hastes quebradas, retorcidas, descolaram do tecido. Toda a estrutura desmoronara. Não houve outro destino possível, ela teve de ir para o lixo. Eu gostava dela, mas não pude fazer nada, nem curtir o luto, devido à situação periclitante. Felizmente consegui abrigo sob os guarda-sóis de um pub (porque nos outros bairros tem barzinho, mas o Moinhos tem Pub. Bairro chique é outra coisa).

Fiquei lá, parada, vendo a chuva chover, até que, como um enviado divino, um vendedor de guarda-chuvas, magro e moreno, surgiu oferecendo guarda-chuvas superfaturados. Em dias secos, eles custam dez Reais, mas em plena chuva, não menos de vinte. Fazer o quê? Lá se foi meu almoço, mas troquei vinte pila por um guarda-chuva grande, que o cara jurou que não se desmontava. Ok, saí toda feliz, armada com um novo guarda-chuva, de xadrez azul, bonitinho. Meia quadra abaixo, uma nova rajada de vento ensandecida veio por baixo do dito-cujo e virou as hastes e a tela do avesso. As hastezinhas sem-vergonha entortaram feio e somente aí eu percebi a péssima qualidade da coisa.

Todo um novo mundo se abriu para mim quando meu guarda-chuva virou do avesso. Os guarda-chuvas não são todos iguais. O tempo parou por um instante, vi as pessoinhas congeladas, e em seguida, em slow-motion, com seus guarda-chuvas e sombrinhas bem firmes, abertos, enquanto o meu dançava para lá e para cá, entortando-se a seu bel-prazer. Pensei: “onde raios essas pessoas compram seus guarda-chuvas? Como eles serão por dentro?”. Os guarda-chuvas não são todos iguais. O rapaz vendedor dos guarda-chuvas made in Ferno (certamente ele era enviado de uma entidade nada divina) passou novamente. Eu mostrei a ele o que havia acontecido e ele, cara-duramente disse que nada poderia fazer e ainda me advertiu que eu deveria cuidar melhor do produto…hahahaha…eu disse: “com certeza, da próxima vez não sairei com ele na chuva, para não estragar”.

Os danos foram irreversíveis. Duas hastes entortaram-se como os talheres de Uri Geller. O mais interessante é que eu ficava parada, esperando o vento cessar. Nada de vento. Caminhava. O vento aparecia, subitamente. Se eu parasse, ele parava também. Ele me perseguia. Ou eu era o vento. Resultado: fiquei sem almoço e cheguei na imobiliária encharcada como se tivesse tomado um banho na rua. Feliz – porque eu sou uma pessoa feliz – pela oportunidade de encarar uma situação extrema, na qual é praticamente impossível encontrar um lado bom. Eu sempre encontro. Encontrei vários. Alguns foram arrastados pelo vento, mas eu os encontrei, não importa. E fiquei feliz por não ter feito uma escova ontem, ou teria perdido sessenta Reais ao invés de vinte.

Entrei na imobiliária e foi impossível não atrair nenhuma atenção, com aquela cara de mergulhada. Anunciei o que acontecera para todo o prédio, e ninguém perguntou mais. Fiz aquela cara de alienígena, que faz com que ninguém mais me pergunte nada, mesmo, e sentei à mesa para escrever este texto. Pensando, ainda, o que as rajadas de vento têm contra a minha pessoa. Ou qual é a conexão que as rajadas de vento têm comigo. Por que o vento se move quando me movo? E onde as pessoas compram bons guarda-chuvas? Uma tempestade maluca de repente altera todas as prioridades do seu dia.