Sobre a sua verdadeira identidade

karate-2578819_960_720

A sociedade tenta convencer as pessoas de que a identidade delas tem a ver com alguma característica física ou com algo deste mundo físico: cor da pele, etnia, peso, gênero, textura dos cabelos… Assim, tenta encaixar cada um em grupos rotulados, de acordo com características externas, prometendo uma sensação de pertencimento que nunca virá.

Muitos percebem a verdade quando ficam idosos e o corpo passa a não cooperar. Estou vivendo uma amostra grátis disso. Luto contra a disautonomia, uma espécie de “mau contato” nas funções automáticas do organismo, causada por um defeito genético. Desde que o problema se agravou, habito um corpo que não me obedece.

Nunca ficou tão claro para mim que eu não sou um corpo. Às vezes meu corpo está exausto, sem energia, a pressão muito baixa, e eu, lá dentro do corpo, tenho um milhão de planos e quero fazer um milhão de coisas, mas não consigo, porque ele não obedece. Outras vezes, tenho que parar o que estou fazendo porque os músculos do meu corpo estão fracos e as articulações, sobrecarregadas, doem. Mas, por mim, ficaria horas naquela atividade.

Eu quero comer, mas meu corpo nem sempre digere, eu quero ficar em pé por muito tempo, mas meu corpo nem sempre consegue fazer o sangue chegar à cabeça nessa posição. Quero andar mais, mas meu corpo acha que está escalando uma montanha e fica extremamente cansado com pouca coisa. Quero passar uma tarde no parque, mas meu corpo não regula a temperatura e passa mal no calor.

Quando alguém me pergunta como estou, minha vontade é responder que estou bem, porque, de fato, EU estou bem. Quem ainda não está bem é meu corpo. É impressionante o quão nítida é essa diferença hoje e o quão clara é esta verdade:

eu não sou meu corpo.

Eu não sou visível. Não sei qual é a minha forma, não conheço minha real aparência. Não sou branca, não sou negra, não sou parda, vermelha, amarela ou azul. Não sou gorda, não sou magra, não sou alta nem baixa. Não tenho nenhum problema genético. Não tenho doença, não tenho deficiência. O que meu corpo tem não me afeta. Cuido dele, sei que vai ficar bem, mas cuido, principalmente, de mim.

Eu, que estou dentro deste corpo que às vezes parece tão mais pesado do que realmente é. Eu, que preciso dizer para o meu cérebro o que ele deve fazer ou pensar. Eu, que escolho pensar no que é bom e rejeitar o que faz mal. Eu, que cuido deste corpo que tantas vezes não coopera, que vou além do limite dele para chegar ao mínimo aceitável. Eu, que não reflito no espelho, que não pertenço a este mundo, que uso os braços deste corpo, que sinto as dores deste corpo e assim conheço as dores de outros corpos. Corpos que guardam outras pessoas, que nem sabem quem são. Acham que são seus corpos, porque nunca tiveram que lutar contra eles. Vivem, iludidas, a vida dos corpos. E não sabem por que nunca se completam. Porque não são seus corpos.

Eu não sou visível. Não conheço minha aparência. Minha identidade não é cor, não é gênero, não é local de nascimento ou massa corporal. Minha identidade são as escolhas que faço. Não sei como eu me movo, só sei dirigir um corpo que mal responde. Aprendo a dirigir. Não importa os defeitos que ele tem, estou feliz por ter este corpo. Ainda que pesado, ainda que difícil, ainda que rebelde. Pelo tempo que estiver dentro dele, vou fazer o máximo, com todas as minhas forças, para levar a outras pessoas a consciência de que elas não são corpos. Essa consciência tinha quem escreveu:

“Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” (2 Coríntios 4.16)

E completou: “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.” (2 Coríntios 4.18)

É uma sabedoria que o mundo de hoje desconhece — ou finge não conhecer.

.

Uma palavrinha sobre as eleições

photo_2018-10-06_20-03-47

[Estou fazendo tratamento médico e não deveria me desgastar escrevendo sobre esse assunto, mas não ficaria tranquila sem colocar pelo menos alguns tópicos que considero importantes enquanto ainda há tempo de votar. Por favor, leia até o final.]

Para escolher em quem eu iria votar no primeiro turno, li o plano de governo do PT, do Ciro, do Alckmin, da Marina e do Bolsonaro. Conclusão: ideologicamente, PT, Ciro, Marina e Alckmin estão mais alinhados do que gostariam de admitir. A questão da ideologia de gênero nas escolas, por exemplo, só não existe no plano de governo do Bolsonaro (ele fala claramente em ensino sem ideologia). Ciro promete “articulação e apoio ao Estatuto da Diversidade Sexual” e “implementação efetiva do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT”, o que garante o ensino da teoria de gênero como se fosse consenso científico.

Logo, quem discorda dessa ideologia não tem muita alternativa na hora de votar. Já quem apoia, tem todas as outras opções a comparar e escolher. Depois do atentado, a mídia e a militância de esquerda bateram tanto no Bolsonaro que comecei a me interessar por ele. Eu queria saber se ele realmente era o maluco totalitário que diziam que ele era, por isso resolvi ler o programa de governo completo, sem fazer juízo de valor, só tentando entender, mesmo, já que formar minha opinião com base na lista de xingamentos que as pessoas apresentam como se fossem características dele não é bem minha praia. E o fato de que a Globo e a Veja estavam claramente contra ele era sinal de que ele não deveria ser tão ruim assim.

Todos os cidadãos devem ser respeitados, como a constituição garante e como a Declaração de Direitos Humanos determina. Foi um espanto descobrir, logo nas primeiras páginas, que o plano de governo do Bolsonaro é muito mais inclusivo e democrático do que eu imaginava. Fala em seguir a constituição e as leis, não estimula preconceito de nenhum tipo.

A melhor base de ideias incrivelmente é a dele, ainda que não seja um projeto perfeito e ainda que eu não concorde com todas as propostas. Com relação ao que não concordo nas propostas dele, presidente não governa sozinho, por isso é bom escolher direito os deputados e senadores. Assim, teremos quem defenda nossas ideias. (E, não sei se você reparou, mas foram deputados e senadores que tiraram a Dilma. Eles apresentam projetos de lei e — mais importante do que isso — eles aprovam e também barram projetos de lei. Arrisco dizer que saber em quem votar para o legislativo é mais importante do que saber em quem votar para o executivo…)

Resumindo, se o Bolsonaro colocar o plano que está no TSE em prática, não vejo nenhuma ameaça à democracia, nenhum plano maligno, nada que destrua o Brasil. Até agora o que me parece é que a oposição a ele é feita na base da forçação de barra, bullying de quinta série e notícias com dados incompletos para passar uma impressão de que o cara é um monstro. Não é. Mas deve ser uma ameaça bem grande às estruturas falhas do nosso sistema. E só por isso já mereceria meu voto.

Comecei a pensar fora da bolha da esquerda no ano passado e mudei de candidato umas três vezes durante o período eleitoral. Só comecei a pesquisar a sério o Bolsonaro por causa da reação dos opositores (aqueles com quem fiz campanha para o PT em 2010 e 2014) ao atentado que ele sofreu. E minha visão dele hoje é bem diferente. Não é mito, não é salvador da pátria, mas também não é monstro destruidor de democracia.


Extras:

Eu me identifiquei bastante com esse vídeo, ele resume bem minha mudança de posicionamento político:  https://www.youtube.com/watch?v=hiVQ8vrGA_8

Este site é muito útil para entender como as informações sobre Bolsonaro têm sido distorcidas: http://mentiramparamimsobreojair.com/

Link para baixar as propostas dos candidatos em PDF:

http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2018/propostas-de-candidatos

Alckmin (estranhamente, o arquivo do Alckmin que está no TSE é um resumo. A proposta na íntegra está no site dele):
https://www.geraldoalckmin.com.br/wp-content/uploads/2018/09/Programa_GA_2018.pdf

Bônus: Para quem acha, como eu achava, que “discurso de ódio” é coisa das pessoas de direita, apresento-lhes o maravilhoso mundo dos prints do perfil “Ódio do Bem”: https://twitter.com/odiodobem

.
PS: Me perdoem o texto desorganizado, é que a votação do primeiro turno já é amanhã e estou angustiada por não ter conseguido concluir o texto direito, então resolvi publicar bagunçado, mesmo. Se tiver segundo turno, é provável que os posts sobre o assunto sejam todos bagunçados assim.

PS2: Sobre quem chama Bolsonaro de “coiso” e “inominável”: eu tenho uma excelente teoria sobre o porquê de essa estratégia estar sendo aplicada. Se alguém quiser, posso elaborar um post sobre isso no segundo turno — se houver segundo turno — ou em retrospectiva, se ele vencer no primeiro.

PS3: Sobre o tratamento médico, é um problema raro, de nascença, que eu não sabia que tinha, mas que se agravou nos últimos anos e estamos trabalhando para normalizar. Mas Deus me livre de ter que falar sobre isso neste post hahaha. Se o povo não consegue entender e respeitar o período de recuperação pós-cirurgia, infecção e longa hospitalização de um cara que levou uma FACADA NA BARRIGA, vai querer saber alguma coisa de um problema do qual a maioria sequer ouviu falar? rs

Obs. Não achei os créditos da imagem. Se alguém souber de quem é, por favor, me avise.