Sobre a saída dos canais abertos da TV paga

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Record, Rede TV e SBT criaram a Simba Content para lutar contra a situação desigual que há no mercado televisivo. Na verdade, essa situação não é de hoje, mas é a primeira vez que emissoras se unem para peitar a concorrente que ainda acha que manda no Brasil. A luta dessas empresas é por espaço e por uma concorrência mais justa, mas creio que podemos aproveitar essa luta para engatar a luta dos consumidores de TV e dos brasileiros, em geral, contra a manipulação e o poder irrestrito que a rede Globo ainda exerce neste país. 

Essa questão da TV a cabo está mal explicada por grande parte dos meios de comunicação, que se limitam a copiar e colar o que as empresas dizem. Não explicam, por exemplo, que essa discussão não é de hoje e que o problema principal também não é de hoje. A Globo exerceu controle sobre a Net e a Sky como proprietária e acionista por muitos anos, até que, forçada pela lei e por suas muitas dívidas, buscou novos sócios e começou uma manobra para se retirar do controle da operação dessas empresas, mas sem perder o poder de veto sobre os canais. Sim, apesar de sair do controle operacional da Net e da Sky (porque foi obrigada a isso), ela manteve o poder de vetar canais nas operadoras que controlava. Além, é claro, de ser dona de 61 canais na TV fechada…alguém acha que ela não usa essa influência na negociação com as outras operadoras?

Talvez por isso as empresas de TV a cabo paguem pelo sinal aberto da Globo e não só por seus canais fechados (e o consumidor também, afinal de contas, está tudo no pacote). Mas na hora de pagar pelo sinal digital da Record, Rede TV e SBT, dizem que terão de aumentar a mensalidade… é claro, muito “pobrinhas” são essas empresas de TV a cabo, não é mesmo? Suas mensalidades são tão baratinhas e elas têm tão poucos assinantes que nunca conseguiriam pagar três canais a mais…quanto é mesmo o faturamento delas? E o dono da Net, Claro e Embratel, o bilionário mexicano Carlos Slim, não é um dos homens mais ricos do mundo? Por favor, né? Alguém REALMENTE acredita que essas empresas podem pagar a Globo, mas não podem pagar três emissoras produtoras de conteúdo sem repassar esses valores ao consumidor? Alguém realmente acha que o assinante já não está pagando há muito tempo por esses canais?

Mas esse é o modus operandi delas: ameaçam o consumidor para que ele fique bem quietinho no canto dele, sem questionar, sem reclamar. O problema é que os mais afetados por essa situação não têm força para se defender. Há locais no Brasil em que o sinal aberto é ruim e para assistir a essas emissoras de sinal aberto as pessoas precisam de TV a cabo.

Defendo o direito das pessoas assistirem ao que quiserem, principalmente se está em contrato. É esse direito de escolha que precisa ser assegurado, não importa se você gosta ou não de canais de TV aberta e se assiste a eles ou não. Defender o direito do outro é ter consciência de seu papel como cidadão. País que vive na base do cada um por si não vai para frente e vive escravo de corruptos, estejam eles na política, em corporações multinacionais ou em monopólios de comunicação.

A luta do consumidor é pelo direito de escolher. Na prática, parece claro que a globo ainda tem forte influência nas operadoras de TV a cabo. Também parece haver um esforço para manipular os consumidores ao tirar deles opções e o poder de escolha. Aliás, isso não é novidade. Ameaçadas pelo youtube e por serviços de streaming como Netflix, as operadoras tentaram até limitar a internet dos brasileiros recentemente, lembra? 

Admiro a coragem das emissoras que formam a Simba Content em se unir para enfrentar o monstrengo global que historicamente engolia com jogo sujo e perseguições todos aqueles que ousavam se levantar contra ele. 

O Brasil não é mais o mesmo que Roberto Marinho tinha nas mãos. A Globo há tempos perdeu o controle absoluto que tinha sobre as massas e sobre o mercado, mas, apoiada por multinacionais que se instalam aqui mais preocupadas com seus próprios interesses do que com a qualidade do serviço que se propõem a oferecer, essa emissora continua exercendo um poder que não deveria mais possuir. Poder esse que ainda é capaz de colocar no topo quem ela quiser e destruir o que for, desde que ganhe com isso. Por essa razão, apoio qualquer investida contra essa hegemonia forçada e compro a briga, que também é minha. É de todos nós. Enquanto houver tratamento desigual entre as emissoras, o Brasil viverá refém da rede Globo.

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PS: Boa explicação do Marcelo de Carvalho, da Rede TV sobre o que é a Simba e a situação atual: https://tvuol.uol.com.br/video/16159918/

E o comunicado oficial dele: https://www.youtube.com/watch?v=smGZh21ZNLQ

PS2: É sempre bom lembrar a quem ainda não assistiu: existe um documentário antiguinho, mas muito educativo, chamado Muito além do Cidadão Kane, sobre o poder paralelo exercido pela Globo ( https://www.youtube.com/watch?v=s-8scOe31D0 ). A Globo não é conhecida por jogar limpo com seus concorrentes e sempre preferiu ganhar no tapetão e tirar do público as opções de escolha a brigar de forma justa em igualdade de condições. Para conhecer um pouco mais sobre a história e entender melhor a emissora, recomendo a leitura do livro “O quarto poder”, do jornalista Paulo Henrique Amorim .

UPDATE: As operadoras agora estão trabalhando com desinformação, tentando fazer com que as pessoas acreditem que a culpa é das emissoras e elas não têm nada com isso. Pena que já cancelei a TV a cabo, senão cancelaria de novo, só de raiva. Só para esclarecer: As emissoras podem, sim, cobrar pelo conteúdo digital e isso está sendo discutido desde 2013, olha só (matéria de 2013): “Durante debate no congresso da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), em São Paulo, representantes da Band e do SBT afirmaram que o conteúdo digital terá custo maior, que poderá tanto ser assumido pelas emissoras abertas quanto pelos assinantes de TV a cabo, caso o valor seja repassado às operadoras de TV por assinatura, que poderão dividi-lo entre a base de clientes.” (Na verdade, nem seria necessário repassar aos clientes, pois as operadoras de TV a cabo já cobram mensalidades suficientemente altas para cobrir esse custo.) PS do Update: Ignore o título sensacionalista do link (Veja sendo Veja, né?), a matéria não diz que o telespectador teria que pagar, mas dá a entender que ficaria a critério da empresa de TV a cabo repassar ou não e depois diz que o valor seria baixo e não atingiria o consumidor. http://veja.abril.com.br/…/espectador-pode-pagar-por…/ 

Não generalize

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Identificando a voz do gremlin — Parte 4

Outra característica forte de pensamentos gremlinianos é a presença de termos definitivos e generalizações, como: sempre, nunca, ninguém etc. — As coisas na vida real dificilmente podem ser generalizadas ou definitivas. Acho que definitivo, só a morte e, mesmo assim, não é tão definitiva, já que a vida continua depois dela.

Essa, aliás, é uma das características mais comuns e é o que leva muitas pessoas a tomarem decisões definitivas (como o suicídio) na tentativa de solucionar um problema. O pensamento errado as leva a ignorar o fato de que todo problema é temporário. Elas veem tudo como extremo e…dramático. Sim, porque não tem nada mais dramático do que algo definitivo. “Eu NUNCA vou ser feliz.” “Eu NUNCA vou conseguir isso.” “Eu NUNCA vou mudar.” “As pessoas SEMPRE me acham ridícula.”

Encontrei um bom exemplo disso em um dos meus diários antigos, de 1999 (eu tinha 19 anos e o problema não era adolescência, era depressão, que, com altos e baixos, me acompanhou até 2009). Sente o drama:

“Estou exausta, de saco cheio de TUDO e de TODOS, não aguento mais os mesmos problemas, as mesmas conversas, os mesmos dilemas. Eu não aguento mais esse NADA COMPLETO. Será que eu NUNCA me recuperarei? Será que NUNCA reconstruirei? NADA será como antes. Eu NUNCA serei como antes. O que eu esperava que fosse? Sinceramente, eu confesso que não esperava NADA, nem de antes, nem de agora (muito menos).”

Praticamente um texto psicografado por gremlin. Às três horas da manhã, em uma das muitas madrugadas que eu passava em claro pensando abobrinha (conversando com gremlins). Puro sentimento burro. Se houvesse mediação de raciocínio lógico aí, perceberia que nenhuma dessas generalizações era correta.

Por exemplo, se você fosse fazer uma lista de TODAS as coisas e pessoas que existiam na minha vida, eu provavelmente estaria de saco cheio de 10% delas, no máximo. E por razões que diziam mais respeito a mim do que a elas. Mas, sem pensar, eu realmente sentia que era algo que poderia generalizar. Eu sentia como se estivesse cansada de TUDO, mas não estava realmente cansada de TUDO.

E quanto ao “eu confesso que não esperava NADA, nem de antes, nem de agora”, obviamente eu esperava alguma coisa de antes e do momento em que escrevia isso, caso contrário não me sentiria frustrada. Se você espera NADA, não se frustra ao encontrar o que esperava rs. Por fim, eu sentia que nunca seria feliz, sentia um vazio (o “completo nada” que menciono no diário) e de tanto repetir essas palavras definitivas, sentia que era algo impossível de mudar. 

Sim, porque há um segredo nessa repetição de nadas, nuncas, tudos e sempres. A repetição de palavras generalistas e definitivas é uma forma do gremlin nos hipnotizar com a sensação de que nunca conseguiremos nada. Não importa se faz sentido ou não, só o que importa é a sensação que nos traz. É com isso que ele trabalha e é nisso que nos enrola.

Uma coisa que você deve saber a respeito de textos escritos, falados ou pensados: cada palavra importa. Em seus textos, preste atenção a cada palavra. Você realmente está dizendo o que quer dizer? O que está dizendo é realmente verdade? Realmente tem lógica? Será que esse NADA quer dizer NADA, mesmo? Nem uma coisinha? Se eu me perguntasse: “como assim ‘não aguento esse nada completo’? Será que minha vida realmente tem sido um nada completo?” Seria obrigada a admitir que existiam algumas coisas boas, que eu simplesmente desconsiderava.

Aprenda outra coisa: generalizações empobrecem o discurso. Você poderia focar dez coisas específicas, mas generaliza em uma só. Teríamos um texto bem mais rico se eu descrevesse as coisas boas que estavam acontecendo na minha vida, as coisas legais e as possibilidades para resolver aquilo que me incomodava (se eu conseguisse pelo menos descrever quais sentimentos exatos estavam me incomodando) — ou lidar melhor com o que eu não poderia mudar. Mas não havia espaço para isso, somente para reclamações e frases de efeito sem lógica, que só serviam para alimentar sensações e sentimentos.

É claro, eu sei que quanto mais longe estamos de Deus, mais insatisfeitos ficamos com TUDO à nossa volta. Mas o contrário também é verdade. Quanto mais aprendemos a valorizar o que temos, quanto mais focamos naquilo de bom que temos, quanto mais observamos o que é bom e menos foco colocamos no mal, mais conseguimos nos aproximar dEle.

Eu me lembrei de algo que li no Casamento Blindado, capítulo 20. É a ferramenta número 3, que deve ser aplicada no casamento, mas também vale para seu relacionamento consigo mesmo. Já disse que tudo o que se propõe a ajudar no casamento (Casamento Blindado, The Love School, Terapia do Amor etc.) também pode ser aplicado ao nosso relacionamento conosco. Vou colar aqui um trechinho dessa ferramenta, que pode ajudar a quem está nesse processo de reconstrução da mente:

3. Não generalize 

Não importa como você completaria essas frases: “você nunca…” ou “você sempre…”. Ambas causarão problemas. Não use o pincel de uma situação para pintar todo o caráter do seu companheiro. “Você sempre faz o que quer, nunca o que eu quero”, “você nunca me ouve”. Esse tipo de afirmação raramente é verdadeira, e só serve para aborrecer seu companheiro.  Lide com as situações individualmente e resista à tentação de relacionar o problema atual a um problema passado. Cuidado com as palavras nunca, sempre, nada, tudo e toda vez. São palavras absolutas e não deixam opção. Evite-as. […]”

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Parte 1: Tudo eu

Parte 2: Pensamentos gerados por sentimentos.
Parte 3: Adjetivitis negativus aguda

Parte 4: Não generalize

Parte 5: Pensamento de futuro catastrófico

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*Para quem está chegando agora: “gremlin” é como chamo os monstrinhos invisíveis que imagino sentados em nossos ombros sugerindo pensamentos negativos. Eu os imagino com aquela cara dos monstrinhos do filme Gremlins, principalmente para não querer um troço desses no meu ombro.