Tudo eu!

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*Imagem: buraco negro sugando a energia dos outros (Credits: NASA/CXC/M.Weiss)

Identificando a voz do gremlin — Parte 1

Qual é o “estilo literário” do gremlin que se empoleira em nossos ombros para sugerir pensamentos negativos e nos fazer mergulhar em autocomiseração? Vamos falar sobre algumas das características mais comuns dos pensamentos que ele sugere, não apenas para que você possa identifica-los, mas para desenvolver aquela intolerância de que falamos no post anterior. Vamos falar sobre essas características aos poucos, para facilitar o entendimento, mas segue uma listinha básica:

São autocentrados

Há forte componente emocional negativo

Presença de adjetivos negativos

Presença de termos definitivos e generalizações

Previsão de futuro catastrófico

Conclusões surrealistas 

São autocentradosA maioria é centrada no “eu”. “EU sou isso e aquilo” (geralmente alguma coisa negativa), “EU nunca vou conseguir”, “ninguém ME suporta”, “fulano pensa isso e isso de MIM”, “como ele pode fazer isso COMIGO?” etc.

Por mais que você se ache altruísta e doador, começa a se preocupar extremamente com a opinião do outro a SEU respeito, com a SUA performance durante uma conversa ou com o impacto que determinada situação pode ter na SUA vida ou com o que VOCÊ queria que a outra pessoa tivesse feito ou dito. 

É complicado ter que admitir uma coisa tão feia a respeito de nós mesmos, eu sei, mas é necessário. Dar crédito à voz do gremlin faz com que até a mais altruísta das criaturas comece a olhar só para si. Repare nesse tipo de pensamento vitimista e perceba o quanto ele gira em torno do seu umbigo.

É por isso que um bom antídoto à autovitimização é cuidar de outras pessoas. Se bem que eu já vi pessoas usarem o fato de cuidar de outras para se vitimizar. Na verdade, eu mesma já fiz isso, admito. “EU faço isso, isso e aquilo e ninguém ME valoriza”, “só EU faço tudo nessa casa”, “EU não tenho ninguém para ME ajudar”, “EU sou um ombro amigo para todo mundo, mas não tenho nenhum ombro amigo para MIM”.

Nessa, a gente perde a oportunidade de realmente conhecer as outras pessoas e entender como elas pensam para conseguir se colocar no lugar delas e perceber que as coisas não giram em torno do nosso umbigo. E também de desenvolver um olhar mais misericordioso, dando aos outros o que gostaríamos de receber, inclusive a compreensão.

O problema é que, nesse estágio você se torna um buraco negro sugador de energia. Mesmo se todo mundo lhe desse tudo o que você acha que precisa, ainda não seria suficiente. Você continuaria sentindo falta e encontrando motivos para dizer que, em muitas outras coisas, você continua em desvantagem.

É por isso que você tem que morrer. Calma. Não quero matar ninguém. O “você” que tem que morrer é essa natureza humana movida por emoções. É por isso que o gremlin tem tido tanto espaço. Quanto mais alimenta essa natureza emotiva, mais frágil emocionalmente você fica (e mais exposto a ação gremliniana). É um paradoxo, não? Mas quando deixamos de alimentá-la e aprendemos a dizer “não” a nossas próprias vontades para fazer o que é certo, ficamos emocionalmente mais fortes e resistentes, pois estamos desenvolvendo em nós a natureza de Deus. Veja se isso é ou não sacrificar a própria vontade para fazer o que é certo:

“Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.”

Lucas 6.35,36

 

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*Para quem está chegando agora: “gremlin” é como chamo os monstrinhos invisíveis que imagino sentados em nossos ombros sugerindo pensamentos negativos. Eu os imagino com aquela cara dos monstrinhos do filme Gremlins, principalmente para não querer um troço desses no meu ombro. 

 Se quiser entender melhor a referência, leia esses dois posts do Jejum de Daniel:

Dando crédito à voz do gremlin

O estado de drama e as lentes verdes do gremlin

Intolerância à negatividade

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Nos próximos posts vamos analisar algumas das principais “características literárias” dos roteiros que o gremlin escreve na cabeça das pessoas. Mas é importante que, além de conseguir identificar a voz do gremlin, ela se torne repugnante para você. Não pode mais ser algo tolerável. Vá se treinando a rejeitá-la como rejeitaria uma comida estragada, apodrecida ou algo que lhe fizesse muito mal.

Seja exagerado nesse início. Não tem problema ir para o extremo oposto, depois será mais fácil encontrar o equilíbrio. Faça de conta que desenvolveu intolerância a negatividade e drama equivalente à intolerância que um celíaco tem ao glúten. Aliás, eu vejo muitas semelhanças entre o que o glúten é para um celíaco e o que a negatividade é para uma mente saudável.

A doença celíaca é uma intolerância violenta ao glúten. Alguns celíacos não podem chegar nem perto do glúten que já passam mal. Qualquer farelinho de pão já é suficiente para desencadear uma crise. Muitos vivem anos passando mal sem saber por que (não sei se reparou, mas nossa dieta está cheia de glúten) e quando, enfim, descobrem, a mudança de dieta é radical, mas é a única maneira de terem uma vida normal.

Mal comparando, a intolerância que você desenvolveu à negatividade e ao drama é altíssima, como celíacos com o glúten. Os sintomas dessa intolerância são fáceis de perceber no dia a dia. Você está intoxicado, exausto, tudo parece difícil e pesado. É difícil acreditar que as coisas irão melhorar. Quanto mais negatividade consome, mais difícil e pesado tudo se torna. Reclamar é quase inevitável. O mundo parece cinza, exige um esforço quase sobrenatural manter o ânimo, o entusiasmo, a esperança.

Agora que começou a nova dieta anti-gremlin, está se desintoxicando. Não é da noite para o dia, mas aos poucos você vai perceber a vida ficando mais leve. Porque as coisas podem ser complicadas e difíceis do lado de fora, mas não precisam ser assim do lado de dentro. Por dentro, pode ser leve. Pode e deve ser leve, afinal de contas, a proposta era justamente trocar um fardo pesado pelo leve, não é mesmo?

 

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*Para quem está chegando agora: “gremlin” é como chamo os monstrinhos invisíveis que imagino sentados em nossos ombros sugerindo pensamentos negativos. Eu os imagino com aquela cara dos monstrinhos do filme Gremlins, principalmente para não querer um troço desses no meu ombro. 

 Se quiser entender melhor a referência, leia esses dois posts do Jejum de Daniel:

Dando crédito à voz do gremlin

O estado de drama e as lentes verdes do gremlin