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Quando não recebemos o que pedimos

Encontrei em meus arquivos uma anotação dessa história, de 2016. Resolvi trazer para cá, porque percebi o quanto nós somos bichinhos quando, como eles, vivemos pelo que sentimos. Nosso gatinho, o Tiggy, tinha que fazer um exame de sangue pela manhã, que exigia 10 horas de jejum. Na noite anterior, ofereci comida até o horário-limite e depois guardei os pratinhos de ração seca e tirei a ração úmida dos outros pratinhos. Ele nem percebeu, pois estava com a barriguinha cheia.

De manhã, quando abrimos a porta da sala, um coral de miados estava à nossa espera (os dois, já que a Ricota acabou tendo que fazer jejum solidário). Já estavam sem comer há sete horas e, para um gato, isso é uma vida inteira! Comecei a escrever às 7h45 daquele dia e nosso gatinho ainda estava em jejum, deitado no meu colo enquanto eu digitava. Olhava para ele e ele me olhava de volta, com uma expressão que claramente dizia “cadê minha comidinha?”. Era um pequeno intervalo, antes de voltar a fazer o que fez durante as quase duas horas em que estávamos acordados.

 Miava, subia onde ele sabia que tinha ração e miava de novo, olhando para nós. Descia e parava na frente do pratinho olhando para nós, com carinha de dó. Lambia o pratinho vazio, em uma cena triste de gato esfomeado. Subia na cama, procurando os grãozinhos de ração que ele recebia por ali quando estava doente. Subia na mesa do computador, miando e procurando nem que fosse uma migalhinha. Dali a pouco, perde a paciência e começa a derrubar coisas, em protesto.

Era triste vê-lo chorando, com fome, pedindo comida, tentando se comunicar de todas as formas com esses humanos (só falta falar), sem conseguir entender por que não recebia o que queria. Nós estávamos fazendo o que era melhor para ele, mas não tinha como entender. São coisas que estão além de sua compreensão, de um mundo que não é o deles, mas que interfere diretamente no mundinho deles. A impressão que têm é que estão sendo ignorados.

Quantas vezes isso não deve acontecer com a gente? Estamos lá, miando, orando, clamando para Deus nos dar o que queremos, mas Ele parece nos ignorar. Não entendemos por que não recebemos ainda. Ele sabe o que queremos, não sabe? Mais ainda: Ele sabe o que precisamos. Estamos pedindo o que é justo e nos parece profundamente injusto não receber. 

Mas Ele sabe por que não nos deu ainda. Precisamos desse jejum, temos um exame importante a fazer, mas isso não faz parte do nosso mundo. Nossa mente não consegue nem processar o conceito. Para nós, nem faria sentido, mas Ele sabe o que estamos pedindo e já disse que vai nos dar, mas se não for na hora certa, aquilo que tanto queremos só irá nos prejudicar.

A maioria de nós, porém, não tem a pureza e a simplicidade de um gatinho castrado de apartamento e não vai ficar deitado no colo de Deus esperando uma resposta. Pelo contrário, muitos se rebelam, se decepcionam e saem da igreja. Seria como um gato com acesso à rua, que não foi ensinado a depender 100% de seu dono e resolve sair para encontrar comida por conta própria, prejudicando o seu tratamento ou mesmo morrendo pela rua.

Mas temos redes de proteção nas janelas, nossos gatinhos sabem que dependem 100% da gente e já se esqueceram da rua há muitos anos. Mesmo com fome, não pensam em buscar comida lá fora. Dependem de nós e confiam em nossos cuidados. Não entendem o que está acontecendo, mas, depois de tantos anos de convivência, já sabem que podem esperar. Da mesma forma, se dependemos de Deus e O conhecemos, sabemos que tudo o que Ele faz é para o nosso bem. E podemos esperar, certos de que receberemos o que Ele disse que daria. 

A questão toda é confiar. Saber que, se você colocou toda a sua vida nas mãos dEle, Quem está cuidando de você é Alguém cujo conhecimento é muito maior do que o seu. Ele é que sabe o que é a vida de verdade, fora dos limites da sua rede de proteção. Aquela parte da vida que a gente ainda não conhece, porque não consegue ver com esses olhos tridimensionais. Então, se concentre no exame que tem para fazer, com a certeza de que você vai receber aquilo que Ele já prometeu. Algumas horas depois, tendo feito o exame de sangue e a tomografia, o Tiggy recebeu a comidinha que tanto queria. 

Eu não pude curar o Tiggy e dar para ele tudo aquilo que eu queria, porque não tenho poder para isso. Mas Deus tem poder para fazer muito mais do que pedimos ou pensamos, Ele não tem as limitações que nós temos. Então, se eu já queria que o meu gatinho confiasse em mim, mesmo sem eu ter todas as condições de dar o que ele precisava, quanto mais nós devemos confiar em Deus, que tem condições infinitas para nos dar o que precisamos.

 Nossa fé precisa estar na Palavra de Deus. No que Ele prometeu, e não no prazo que nós definimos para recebermos o que queremos. É a Palavra, e não a data, que importa. Porque se você crê, você confia e espera o tempo que for preciso. É claro, vai continuar fazendo o que precisa ser feito para brigar com o mal, agradar a Deus e estreitar seu relacionamento com Ele, para garantir que você estará sempre deitadinho no colo dEle, esperando o que SABE que Ele vai dar.

 

“Porque Eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais.”

Jeremias 29.11 

 

Textos complementares:

Precisando de força, siga as instruções

Tendas no deserto

Ao enfrentar as dificuldades, entenda isso

Dos livros ruins e das coisas que não dão certo

O que a gente faz quando realmente crê

A lógica que deve nortear nossa vida

Estava me lembrando de algo que descobri em uma entrevista que fiz com a D. Ester, acho que em 2013. Você não faz ideia do quanto eu cresci como pessoa e na fé nas poucas oportunidades que tive de entrevistá-la e de trabalhar com ela. O modo de ela pensar é extraordinário! Ela fala pouco e eu precisava entender seu padrão de pensamento para conseguir escrever sobre ela, então fazia perguntas para saber seu modo de pensar, de enxergar e de reagir às situações. Suas respostas envolviam sempre algo lógico, simples, direto e baseado na Palavra de Deus. Foi com ela que aprendi as coisas mais importantes que aplico e ensino até hoje. 

Um dia, mencionou que uma esposa de pastor lhe havia dito que teve vergonha de contar uma determinada coisa porque achou que a D. Ester iria pensar mal dela. Não me lembro dos detalhes, mas foi mais ou menos isso, a mulher achou que a D. Ester pensaria mal dela se ouvisse o que ela tinha a dizer. Imediatamente, a D. Ester respondeu, com uma dúvida sincera: “mas por que você pensou mal de mim desse jeito?”. 

A moça deve ter levado um susto, porque na cabeça dela (e na minha) ela não estava pensando mal da D. Ester, ela estava, por insegurança, achando que a D. Ester estava pensando mal dela. Mas vamos usar a lógica simples: se você acha que a pessoa está pensando mal de você…que tipo de pessoa você está dizendo que ela é? Gente, diante de Deus, eu NUNCA tinha pensado na coisa por esse lado, e acho que a moça também não, mas é verdade! Quando você acha que a outra pessoa está pensando mal de você, a única certeza que você pode ter é que você está pensando mal dela! 

E essa é exatamente a mesma lógica simples, clara, pura e objetiva que Deus usa na Palavra dEle. Veja o livro de Malaquias, por exemplo. Como expliquei no texto sobre ofertas, ali Deus descreve como as ações dos sacerdotes chegam até Ele. As ações deles, traduzidas em palavras, dizem algo bem diferente do que eles achavam que estavam dizendo. Por exemplo:

“O filho honra o pai, e o servo o seu senhor; se Eu sou pai, onde está a Minha honra? E, se Eu sou senhor, onde está o temor para Comigo? diz o Senhor dos Exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o Meu nome. E vós dizeis: Em que nós temos desprezado o Teu nome? Ofereceis sobre o Meu altar pão imundo, e dizeis: Em que Te havemos profanado? Nisto que dizeis: A mesa do Senhor é desprezível.”

Malaquias 1.6-7

Eles não estavam dizendo “a mesa do Senhor é desprezível” com os lábios e nem em pensamentos. Eles estavam dizendo isso com a atitude de oferecer pão imundo, animal defeituoso, ofertando a Deus o pior, o feito de qualquer jeito. Mas Deus recebia aquela atitude como palavras. E é assim que Deus nos lê. 

O que eu estava dizendo sobre Deus com a minha atitude quando duvidava que Ele me aceitaria, sendo que Ele já disse que aceita quem se aproxima dEle com sinceridade? O que eu estava dizendo sobre o caráter de Deus quando pensava que talvez Ele não me curasse (achando que estava crendo, mas obviamente duvidando), se Ele diz que cura aqueles que manifestam a fé? Por causa da minha insegurança, não faz sentido ofender alguém de quem eu gosto e em quem confio. Se eu confio, por que desconfio? 

É aquele velho problema de não pensar no porquê a gente faz as coisas que faz. 

Deus fala na Palavra dEle sobre quem Ele é: justo, compassivo, grande em misericórdia, que não mente, não se arrepende de Suas promessas, mas se arrepende do mal e é tardio em Se irar e pronto a perdoar. É assim que Ele é. Puro, benigno, paciente, verdadeiro, poderoso, respeitador, não brinca de marionetes, tem bons olhos, é manso e humilde de coração e espera sempre o bem dos outros. É a partir dessa lista de características que temos que avaliar nossos pensamentos a respeito dEle. 

E parar de focar em nosso umbigo, assim evitamos nos perder em conjecturas sobre o que os outros estão pensando de NÓS e passamos a pensar em como nós estamos pensando dos outros. Pensar em fazer o melhor pelos outros, dar a eles em nossos pensamentos a benignidade que gostaríamos de receber. Inclusive — e principalmente — quando esse “outro” é Deus. Se queremos ser aceitos na casa dEle (não somente no templo físico, aqui neste mundo, mas, principalmente, na Eternidade) temos que nos desprender dessas picuinhazinhas e bobagenzinhas a que dávamos tanto valor lá no mundo. “Fulano vai pensar mal de mim”, “Mariazinha deve estar falando mal de mim”, “Acho que a Joaninha não gosta de mim”, mim, mim, mim…

Todas as pessoas são complexas, mas quanto mais o tempo passa, mais procuro simplificar minhas características básicas, tirando os “excessos” adquiridos com o tempo, as inseguranças e mecanismos de defesa. Porque Deus é simples. Ele se define como “Eu sou o que sou”. Não é uma coisa fingindo ser outra. Ele é o que é. Seu sim é sim, seu não é não. Ele é o que Ele diz que é e não é nada que Ele não tenha dito que é. E os filhos dEle se parecem com Ele. Por isso, não tenha medo de entregar para Ele tudo o que você é, seu jeito, suas opiniões, suas “certezas”, o que você acha que é sua “identidade”, e todos excessos que talvez você nem perceba que não são originalmente seus. Excessos, inseguranças, maus olhos, tudo isso é comidinha de gremlin. Tire de cima de você todas essas cargas que a vida, o mundo e os gremlins colocaram ao longo dos anos. Aceite a limpeza que Ele se propõe a fazer. 

Textos complementares:

Sobre quem você realmente é 

Como acreditar se eu não acredito? 

A voz do pastor x a voz do ladrão 

Sobre a sua verdadeira identidade 

PS. Depois fui remanejada para outros projetos e acabamos não dando continuidade àquele que eu estava fazendo com a D. Ester, mas no Reino de Deus nada é em vão.

PS2. É essa lógica simples e clara da Palavra de Deus que norteia a fé inteligente.

PS3. Já percebeu que a resposta a qualquer “como” é sempre “sacrifício”, né?